domingo, 16 de março de 2014

Cursinho popular propõe formação crítica a seus alunos

Um dos principais objetivos da iniciativa é de superar as desigualdades no acesso à educação básica


Reportagem Carlos Baldo

De acordo com dados do Guia do Estudante 2012, o número de cursinhos populares em Curitiba é pequeno. Há apenas dois reconhecidos pela publicação, sendo eles: Em Ação e Formação Solidária. Com foco nas populações de baixa renda, a ideia é cobrar pouco ou nenhum tipo de mensalidade.

Ainda assim, há entraves para que um estudante possa se tornar aluno destes cursinhos. Em ambos listados pela publicação, um processo seletivo é aplicado em duas etapas. Na primeira, uma prova de conhecimentos gerais é realizada na qual apenas os candidatos com as melhores notas são selecionados.

No momento da segunda etapa, é feita uma análise da situação socioeconômica de cada estudante da lista de selecionados. A intenção é garantir que apenas alunos com situação financeira frágil desfrutem do ensino ofertado por esses cursinhos populares.

Existe um porém: o Cursinho Popular Ação Direta, iniciativa do Coletivo Quebrando Muros em parceria com escolas públicas, não consta no Guia e destoa dos demais. Em um primeiro momento, há a ausência de processo seletivo, podendo qualquer pessoa ser aluna do cursinho. Outro ponto de divergência é existir, além do conteúdo que os cursos pré-vestibulares oferecem, um esforço para que os alunos tenham senso crítico em relação à sociedade e a realidade em que vivem.

A estudante de Ciências Biológicas da UFPR, Tassiane Corrêa Fontoura, é uma das professoras de biologia do cursinho. Para ela, o projeto traz uma nova perspectiva aos alunos. “Nós trabalhamos com o princípio de democracia direta, que se opõe à democracia representativa. Por isso, estamos distantes da intenção de formar cidadãos no sentido tradicional. É algo diferente, que se propõe a formar e motivar os indivíduos a atuar politicamente”, conta.

No sistema de democracia direta, os alunos decidem entre eles como será a melhor forma do cursinho prosseguir. As plenárias de turma acontecem de forma mensal. Nelas, questões como a grade horária, avaliação das aulas e participação em eventos da comunidade são colocadas em debate. O objetivo das plenárias é tomar decisões coletivas. Todos tem o mesmo poder de voz e voto, podendo concordar ou não com o que foi dito e fazer novas propostas.

Cada disciplina possui o seu grupo docente com autonomia para fazer seus planejamentos de acordo com o calendário do cursinho. Para não sobrecarregar os educadores (que são, em sua maioria, estudantes da UFPR), um sistema de rodízio é adotado. A aplicação do tal sistema fica a critério de cada grupo.

O trabalho feito pelo coletivo gerou frutos. Criado em 2012 na Vila Torres, a competência dos envolvidos na iniciativa fez com que o projeto fosse expandido para o Campo Comprido. Utilizando as instalações da Escola Municipal Maria do Carmo Martins, a extensão conta com 26 alunos. Contabilizando os 12 da matriz, o cursinho dá aula para 38 estudantes.

No primeiro dia de aula, uma das professoras do Cursinho Popular Ação Direta Campo Comprido apresenta aos alunos uma proposta de grade horária. Entre as disciplinas previstas, estão química, biologia, literatura, redação e língua estrangeira. (Foto: Carlos Baldo)

O estudante de Engenharia Elétrica da UTFPR, Pedro Henrique Fernandes, é um dos professores de matemática e de física. Ele se sente feliz em fazer parte da iniciativa. “É gratificante, temos um clima bem familiar aqui. A força de vontade dos alunos é o que move o cursinho. Isso é muito mais importante do que qualquer coisa que um professor possa fazer”, afirma.

Já o aluno do cursinho, Benhur Galvão Bueno, espera que o entusiasmo dos primeiros dias de aula se mantenha ao longo do ano. “Além disso, quero muito que o ensino aqui valorize a parte humana”, diz.

Para mais informações, visite a página do Cursinho Popular Ação Direta clicando aqui.

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