Com a proposta de ampliar a atuação
política, o projeto “Vizinho de olho” promove a união entre vizinhos com o
objetivo de driblar violência urbana
Reportagem Thais Barbosa
Presente em 12 bairros, o “Vizinho de Olho” é
uma alternativa ao combate à violência nos bairros residenciais da Região
Metropolitana de Curitiba. Somente em 2013, mais de 500 casos de homicídio
doloso, quando há intenção de matar,
foram registrados na capital paranaense. Dessa forma, o projeto,
iniciado pela Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) do bairro Guabirotuba,
visa estimular a integração entre os vizinhos e, assim, a discussão sobre os
problemas locais.
Iron Ayre, 56, tecnólogo da informação e
presidente da Conseg - Guabirotuba, explica que é necessário discutir
alternativas que driblem a insegurança na qual as grandes cidades vivem. Para
isso, a comunicação entre os vizinhos pode servir de ferramenta para resgatar a
articulação política entre os cidadãos. “Temos que conhecer nosso vizinho para
viver em comunidade e, assim, discutir e evitar a violência”, explica Ayre.
A aplicação da ideia funciona com base na
composição de células, sistemas de ajuda mútua entre três vizinhos. Assume-se
entre eles o compromisso de manter contato constante, avisar previamente longas
ausências e alertar sobre qualquer movimentação suspeita no bairro. A
interligação entre várias células forma uma espécie de rede neural que garante
a disseminação de informação de forma rápida e precisa.
O coordenador do centro de estudos em
Segurança Pública da Universidade Federal do Paraná, Pedro Bodê, explica que em
países democráticos, como o Brasil, qualquer processo de mobilização que
contribua para a sociabilidade é bem-vinda. Bodê alerta, porém, que o processo
pode se tornar perigoso se renegar o poder legítimo das organizações políticas.
“Esses projetos tem que existir com a intenção de contribuir na ação do Estado.
Não podem, no entanto, substituí-la por completo”.
Iron Ayre, presidente da Conseg Guabirotuba,
explica didaticamente como se interligam as células (Créditos: Thais Barbosa)
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“Kit
Vizinho de Olho”
Após firmada a comunicação efetiva entre
vizinhos, aplicam-se as ferramentas do “Kit Vizinho de Olho”. O conjunto,
geralmente patrocinado pelo comércio regional, tem ferramentas de apoio como
placas de identificação do projeto para as fachadas das casas e imãs de
geladeira para guardar os contatos dos vizinhos.
Ao
aderir ao projeto, os moradores colocam a placa do “Vizinho de Olho” na fachada das casas para inibir a ação de criminosos (Fonte: Conseg Guabirotuba) |
Segundo Iron, as placas penduradas nas casas inibem a ação de bandidos, já que trazem a sensação de que qualquer ação nociva pode estar sendo observada. Além disso, ele ressalta que, nos bairros com o “Vizinho de Olho” consolidado, o comunicação entre os vizinhos é rápida: “Se alguma atitude suspeita é percebida, a comunidade se mobiliza para criar uma dificuldade à ação criminosa, como acender mais luzes das casas.”
Implantação
Voluntariamente, nos sábados, Iron dá
palestras em que incentiva a implantação do “Vizinho de Olho”. No Jardim das
Américas, bairro da visita mais recente do tecnólogo, a violência urbana é tão
recorrente que Luciane Oliveira, operadora de caixa, resolveu procurar ajuda.
“Estamos assustados com o número tão alto de assaltos por aqui. Em qualquer
horário do dia há carros sendo roubados”, diz a operadora. Além disso, ela
conta que várias residências já foram invadidas e moradores mantidos como refém
durante horas.
A Mercearia Vale do Sol, sede do encontro no
Jardim das Américas, também já foi alvo de ações criminosas. Marli Duarte, dona
do estabelecimento, mostra com revolta os vestígios da violência no local. As
marcas de tiro na janela da mercearia ilustram o medo com o qual os habitantes
da região convivem diariamente.
Os moradores, então, confiam no projeto
para amenizar os assaltos na região. “Eu acredito que o projeto vai ajudar
bastante, já vi em outros bairros e acho que ele pode funcionar aqui também. O
meu maior objetivo é dar um basta na violência”, completa Luciane.
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