domingo, 6 de abril de 2014

"Vizinho de olho" incentiva a ação política entre moradores de Curitiba

Com a proposta de ampliar a atuação política, o projeto “Vizinho de olho” promove a união entre vizinhos com o objetivo de driblar violência urbana

Reportagem Thais Barbosa


Presente em 12 bairros, o “Vizinho de Olho” é uma alternativa ao combate à violência nos bairros residenciais da Região Metropolitana de Curitiba. Somente em 2013, mais de 500 casos de homicídio doloso, quando há intenção de matar, foram registrados na capital paranaense. Dessa forma, o projeto, iniciado pela Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) do bairro Guabirotuba, visa estimular a integração entre os vizinhos e, assim, a discussão sobre os problemas locais.

Iron Ayre, 56, tecnólogo da informação e presidente da Conseg - Guabirotuba, explica que é necessário discutir alternativas que driblem a insegurança na qual as grandes cidades vivem. Para isso, a comunicação entre os vizinhos pode servir de ferramenta para resgatar a articulação política entre os cidadãos. “Temos que conhecer nosso vizinho para viver em comunidade e, assim, discutir e evitar a violência”, explica Ayre.

A aplicação da ideia funciona com base na composição de células, sistemas de ajuda mútua entre três vizinhos. Assume-se entre eles o compromisso de manter contato constante, avisar previamente longas ausências e alertar sobre qualquer movimentação suspeita no bairro. A interligação entre várias células forma uma espécie de rede neural que garante a disseminação de informação de forma rápida e precisa.

O coordenador do centro de estudos em Segurança Pública da Universidade Federal do Paraná, Pedro Bodê, explica que em países democráticos, como o Brasil, qualquer processo de mobilização que contribua para a sociabilidade é bem-vinda. Bodê alerta, porém, que o processo pode se tornar perigoso se renegar o poder legítimo das organizações políticas. “Esses projetos tem que existir com a intenção de contribuir na ação do Estado. Não podem, no entanto, substituí-la por completo”.

     Iron Ayre, presidente da Conseg Guabirotuba, explica didaticamente como se interligam as células (Créditos: Thais Barbosa)

“Kit Vizinho de Olho”

Após firmada a comunicação efetiva entre vizinhos, aplicam-se as ferramentas do “Kit Vizinho de Olho”. O conjunto, geralmente patrocinado pelo comércio regional, tem ferramentas de apoio como placas de identificação do projeto para as fachadas das casas e imãs de geladeira para guardar os contatos dos vizinhos.   
Ao aderir ao projeto, os moradores colocam
 a placa do “Vizinho de Olho”
na fachada das casas para inibir
a ação de criminosos (Fonte: Conseg Guabirotuba)

Segundo Iron, as placas penduradas nas casas inibem a ação de bandidos, já que trazem a sensação de que qualquer ação nociva pode estar sendo observada. Além disso, ele ressalta que, nos bairros com o “Vizinho de Olho” consolidado, o comunicação entre os vizinhos  é rápida: “Se alguma atitude suspeita é percebida, a comunidade se mobiliza para criar uma dificuldade à ação criminosa, como acender mais luzes das casas.”

Implantação

Voluntariamente, nos sábados, Iron dá palestras em que incentiva a implantação do “Vizinho de Olho”. No Jardim das Américas, bairro da visita mais recente do tecnólogo, a violência urbana é tão recorrente que Luciane Oliveira, operadora de caixa, resolveu procurar ajuda. “Estamos assustados com o número tão alto de assaltos por aqui. Em qualquer horário do dia há carros sendo roubados”, diz a operadora. Além disso, ela conta que várias residências já foram invadidas e moradores mantidos como refém durante horas.

A Mercearia Vale do Sol, sede do encontro no Jardim das Américas, também já foi alvo de ações criminosas. Marli Duarte, dona do estabelecimento, mostra com revolta os vestígios da violência no local. As marcas de tiro na janela da mercearia ilustram o medo com o qual os habitantes da região convivem diariamente.

Os moradores, então, confiam no projeto para amenizar os assaltos na região. “Eu acredito que o projeto vai ajudar bastante, já vi em outros bairros e acho que ele pode funcionar aqui também. O meu maior objetivo é dar um basta na violência”, completa Luciane. 

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