Inspirada em iniciativas similares, a rádio quer ser um espaço democrático em meio as emissoras comerciais
Reportagem Carlos Baldo
Ser um espaço para dar voz
àqueles que não a possuem e ter uma programação definida por meio de
assembleias nas quais qualquer um pode participar. Essa é a proposta da Rádio
Gralha, ligada a estudantes universitários de Curitiba, que não possui
interesses comerciais.
Assim como a Rádio Muda de
Campinas (SP) que adota uma linha similar, a estação curitibana não possui uma
concessão para seu funcionamento. Como forma de preservar os envolvidos, as
fontes da rádio tiveram suas identidades preservadas nesta reportagem.
Várias equipes de estudantes coordenam os trabalhos realizados dentro da rádio, mas duas são as principais: a administrativa e a técnica. Reuniões são realizadas a cada semana para resolver questões corriqueiras e decidir os rumos do projeto.
Um membro da equipe
administrativa explica que é necessário, primeiro, consolidar a estação para,
depois, se pensar em questões como a programação. “A nossa alma é o sinal.
Quanto mais longe ele for, mais força nossa voz terá. Precisamos que ele tenha
um alcance razoável para que as pessoas se interessem pela iniciativa”,
detalha.
Por enquanto, a situação é
bastante precária. O equipamento limita-se a um transmissor de baixa potência e
um computador, localizados em uma sala no centro de Curitiba. Mesmo assim,
ambas as equipes que compõem a rádio estão confiantes com o futuro da
iniciativa. “Realizamos uma festa no dia 11 de abril para arrecadar fundos. Foi
um sucesso”, afirma outro membro da equipe administrativa.
Banner da festa realizada pela Rádio Gralha. Segundo estimativa do grupo, cerca de 530 pessoas compareceram. (Foto: Divulgação / Rádio Gralha)
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Em junho de 2013, no período
das manifestações de rua nas principais cidades brasileiras, um grupo de amigos
universitários se encontrou com um membro de uma rádio livre carioca. A
discussão pontuou sobre como há uma deficiência em Curitiba em relação a uma
mídia engajada, que vista a camisa de movimentos de resistência. Foi aí que
nasceu a Rádio Gralha.
Quando as operações da rádio
começaram, um tempo depois do tal debate, ainda não havia uma sede. Um
integrante da equipe técnica conta que, naquela época, o transmissor era
itinerante. “De onde nós conseguíamos, transmitíamos. Não tínhamos um lugar
fixo para ligar nosso sinal, a antena viajava com a gente”.
A falta de uma sede ajudou
muito a difundir a existência do projeto, pois desta forma diversas
intervenções foram feitas em vários pontos da cidade. Exemplos disso foram as transmissões
realizadas no pátio da reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
A ideia de fazer uma rádio
alternativa aos padrões vigentes não é nova em Curitiba. Professores da UFPR hoje
envolvidos com a Rádio UFPR, emissora universitária oficial da instituição,
participaram, quando eram alunos de graduação, da Liberdade Vigiada, uma
estação que fez história.
Cientes disso, os integrantes
da Rádio Gralha afirmam que, apesar da similaridade, são princípios diferentes.
“Ao contrário de iniciativas anteriores, nós nos preocupamos em sermos uma
rádio livre. Aqui, todos terão voz e poderão participar”, afirmam.
Mesmo assim, um trabalho de
pesquisa está sendo realizado pela Rádio Gralha para redescobrir e preservar a
história das rádios alternativas que existiram em Curitiba. A intenção é que
essa parte da história já esquecida por muitos não seja perdida para sempre.
“Reconhecemos a importância dessas antigas rádios, por isso queremos resgatar a
história delas”, contam.
Para ouvir a programação da
rádio, basta sintonizar na frequência 106,1 MHz. As transmissões são realizadas
de forma eventual por enquanto, sendo necessário verificar se o sinal está
ativo para tal. A previsão é que as emissões tornem-se frequentes ao ponto do
transmissor permanecer ligado de forma permanente em um futuro próximo.
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