quarta-feira, 14 de maio de 2014

Estudantes de Curitiba criam aplicativo social para resgatar crianças de rua

Desenvolvido por um grupo de meninas de 16 anos, o aplicativo “Kids Rescue” promete agilidade em situações de risco infantil

Reportagem Thais Barbosa

Três estudantes do ensino médio de uma Escola Estadual, localizada no Cristo Rei, desenvolveram um aplicativo que interfere no bem estar de crianças de rua. O “Kids Rescue” foi pensado para auxiliar no resgate de jovens que estão submetidos a riscos sociais, como o envolvimento com as drogas e com a prostituição.

As estudantes envolvidas no projeto descobriram dados alarmantes sobre a presença de menores na rua. Talita Soares,16, e Rasna Leal, 16, contam que se emocionaram ao ler histórias sobre o tema: “Isso não é normal, mesmo que a gente veja em todo lugar. Criança tem que estar na escola, não em risco nas ruas”, afirmam.

Ao visitar a FAS (Fundação de Ação Social de Curitiba), elas descobriram que a falta de agilidade nas denúncias – hoje feitas apenas pelo telefone – prejudicava o recolhimento das menores fragilizados. “Muitas instituições que acolhem essas crianças fecham as portas por causa do baixo número de menores que são mandados pra elas”, conta Maria Oliveira, 16.


Além de denúncias, o aplicativo
exibirá depoimentos de crianças
resgatadas e possibilitará a
doação de recursos 
para as instituições. 

Caso o aplicativo consiga investimento para ser desenvolvido, ele poderá ser baixado em qualquer celular e terá o suporte de um site. Ambos trarão referências de como abordar uma criança em situação de rua, além de informações obre as instituições que recolhem esses jovens. 

A grande vantagem da ferramenta é que, ao ver uma criança sob risco social, o cidadão poderá denunciar rapidamente o fato. Bastará responder a um rápido questionário sobre as características físicas do menor e, se possível, tirar uma foto. Como o aplicativo é conectado a um GPS de celular, a queixa é enviada para a instituição mais próxima automaticamente.

Para auxiliar no desenvolvimento da plataforma, a equipe contou com a ajuda voluntária de Luciano Lazzarotto, 22, técnico em análise de sistemas. Lazzarotto conta que demonstrou o uso dos programas para criar o aplicativo, mas deixou elas livres: “O objetivo era que elas corressem atrás de tudo, eu apenas passava o conteúdo para elas estudarem.”

As adolescentes contam que o incentivo ao desenvolvimento da ferramenta não partiu da instituição pública na qual fazem o ensino médio. Foi por intermédio da Quiron, escola de empreendedorismo que oferece cursos a estudantes de baixa renda, que as meninas tiveram contato com a oportunidade de crescimento pessoal e profissional.

Como reconhecimento da iniciativa, as garotas ganharam a chance de apresentar o “Kids Rescue” na CICI (Conferência Internacional de Cidades Inovadoras) que ocorreu em Curitiba neste mês. O aplicativo foi criado para concorrer no Technovation Challenge, concurso promovido por grandes empresas do ramo tecnológico, e já foi entregue na forma de protótipo para a comissão julgadora.

Talita Soares, Luciano Lazzarotto, Rasna Leal e Maria Oliveira (da esquerda para a direita) participam do concurso Technovation Challenge, que incentiva a criação de aplicativos por mulheres (Foto: divulgação)
Technovation Challenge

O Technovation Challenge é um concurso mundial de tecnologia que visa incentivar a atuação das mulheres nesse segmento. Para participar do prêmio é necessário criar um grupo de até cinco adolescentes do ensino médio com o objetivo de desenvolver um aplicativo que mude a sociedade de alguma forma.

Camila Achutti, 22, organizadora do evento no Brasil, conta que a importância do prêmio é mostrar para as meninas que elas são capazes de ingressar na área tecnológica, mesmo com a predominância masculina no mercado.

A maior dificuldade para a execução do concurso no país - antes aplicado somente nos Estados Unidos - era adaptá-lo à realidade brasileira. Apesar da causa nobre, o programa esbarrava na falta de patrocínio e, por isso, tinha dificuldades em ser divulgado em escolas públicas. 

Mesmo assim, o prêmio teve a adesão de mais de 30 equipes do Brasil inteiro e Achutti se sente realizada: “As minorias são o objetivo do programa, pois o concurso é totalmente ligado à transformação social. Queremos mudar a perspectiva de vida dessas meninas.”

Serão selecionadas 10 equipes semi-finalistas no Brasil e, dessas, uma ganhará uma viagem à São Francisco, nos Estados Unidos. Após competir com os projetos de outras partes do mundo, no final de junho, a ideia vencedora será divulgada. A premiação será de 10 mil dólares para que o grupo possa investir no aplicativo idealizado.

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