Grupo poético mescla liberdade de expressão feminina com as diferentes vozes que participam dele
Reportagem Fernanda Tieme Iwaya
Revolução
Ela
vestia vermelho quando a revolução estourou
Não havia lua no céu, nem comida nos pratos
O caos se alastrava como inundação
Ela ouviu a primeira bomba explodir
E correu para o banheiro
Prendeu os seus cabelos o mais alto que pode
Passou rímel azul
Usou o resto do seu perfume
E colocou no pescoço seu velho talismã
O lenço que a sua avó e a sua mãe haviam usado
para cobrir seus rostos, ela usou amarrado na
cintura para esconder as armas que iria usar na luta
E quando pisou na praça não estava sozinha
Muçulmanas, católicas, pagãs, judias e famintas
Todas elas se encontraram de novo
E sem pedir permissão.
Não havia lua no céu, nem comida nos pratos
O caos se alastrava como inundação
Ela ouviu a primeira bomba explodir
E correu para o banheiro
Prendeu os seus cabelos o mais alto que pode
Passou rímel azul
Usou o resto do seu perfume
E colocou no pescoço seu velho talismã
O lenço que a sua avó e a sua mãe haviam usado
para cobrir seus rostos, ela usou amarrado na
cintura para esconder as armas que iria usar na luta
E quando pisou na praça não estava sozinha
Muçulmanas, católicas, pagãs, judias e famintas
Todas elas se encontraram de novo
E sem pedir permissão.
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Alexandra Barcellos
A criação
de um grupo para a divulgação dos trabalhos poéticos e artísticos de mulheres
que moram em Curitiba foi ideia das poetas Andréia Carvalho e Alexandra
Barcellos, ambas motivadas pela chance de dar reconhecimento, visibilidade e
incentivo ao talento feminino da cidade. “Durante uma conversa, surgiu um
assunto sobre o fato do Google não saber quem são as mulheres que escrevem em
Curitiba: em pesquisa que a Andréia fez
não encontrou muita informação – daí que surgiu nossa ideia de criar um grupo”,
conta Barcellos.
Alexandra Barcellos, 44, nasceu em Foz do Iguaçú e é professora de literatura, produção textual e autora de cinco livros infanto-juvenis de temática ecológica, além de sonhar com a publicação de um livro com suas poesias. Andréia Carvalho é também formada em biologia e autora de dois livros de poesia neo-simbolista.
Alexandra Barcellos, 44, nasceu em Foz do Iguaçú e é professora de literatura, produção textual e autora de cinco livros infanto-juvenis de temática ecológica, além de sonhar com a publicação de um livro com suas poesias. Andréia Carvalho é também formada em biologia e autora de dois livros de poesia neo-simbolista.
Andréia Carvalho e Alexandra Barcellos: coordenadoras do grupo, tiveram a ideia para dar maior visibilidade às meninas que escrevem (Foto: Rocio Vaz) |
No último mês de janeiro, surgiu o grupo que prefere não ter um nome, mas se utiliza do termo Meninas que Escrevem em Curitiba para sua representação. Nas palavras de Carvalho, a escrita abrange diversas formas de expressão, seja no papel, no pincel, na pauta, na luz, no corpo, nos temperos e no coração, daí a não necessidade de um nome específico para identificar estas escritoras.
Em torno
do grupo, meninas de diferentes idades, profissões e talentos artísticos se
unem em prol da poesia, seja ela falada, dançada, pintada, desenhada, cantada
ou gesticulada. “Eu digo que não escrevo, brinco com as palavras”, conta a
publicitária Rocio Vaz, 45, que pelo amor às palavras apreciou a ideia de ser
uma das meninas que escrevem. Até o momento elas já são 163. As garotas foram
recrutadas por meio de redes sociais, convites e indicações.
Para a escritora e artista
plástica Josette Garcia, 53, era preciso uma maior representatividade feminina
nesse contexto, e é isso que o grupo está trazendo. Elas fazem reuniões para
discutir os futuros eventos poéticos, assim como variados assuntos relacionados
ao universo feminino, compartilham ideias, poemas, fotografias, pensamentos,
receitas, histórias e experiências. Os encontros ainda não têm lugar fixo, mas
o grupo vem tendo apoio de diferentes espaços para fazer suas reuniões, como o
Espaço Agendarte, a casa de Cristina Beduschi, o Mercado Livros, a casa Mímesis
Conexões Artísticas e a Biblioteca Pública do Paraná – esse último, deverá ser
o futuro espaço fixo das reuniões.
A ideia
de priorizar a participação feminina, tanto artística quanto organizacional,
busca justamente valorizar o trabalho intelectual feminino, por questões
sociais e relacionadas ao próprio conforto das participantes: “Assim, elas podem
agir como mulheres livremente”, explica a idealizadora Andréia Carvalho.
As
poetisas já realizaram quatro apresentações – performances de declamação de
poesia, podendo ser lida, cantada, dançada, ou o que cada participante preferir.
Os saraus tiveram uma ótima recepção e repercussão, mas nem todas as
participantes se apresentam. De acordo com Barcellos, há um número aproximado
de 40 meninas mais ativas em relação aos eventos. Os espetáculos já tiveram
como palco o restobar Dona Doida, o restaurante Mezanino das Artes, o Instituto
Néo-Pitagórico e o Wonka Bar. A ideia é sempre homenagear grandes figuras
femininas, como a já homenageada Mossa Bildner, norteamericana diretora de
teatro e técnica vocal. Assim como realizar espetáculos de diferentes formatos
e com convidados dos mais diversos meios, incluindo artistas de outras cidades.
O próximo espetáculo será realizado dia 22 de maio,
com o apoio da Fundação Cultural, no Teatro Universitário de Curitiba – TUC. O
“CuTUCando a inspiração” contará com a presença de aproximandamente 25 artistas
do movimento poético. O sarau terá como tema a inspiração que cada uma possui e
homenageará a tenente-dentista Luci Belão, curitibana que desenvolveu um comitê
de Direitos Humanos para mulheres em situação de risco.
Nos espetáculos é comum a divulgação dos trabalhos das meninas por outros meios, como varais poéticos e venda de livros de autoria das participantes (Foto: Rocio Vaz) |
Como o
grupo ainda está em formação não há um site oficial, e os contatos e eventos
são feitos e divulgados através do Facebook.
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