domingo, 18 de maio de 2014

Jogos de carta despertam interesse de estudantes como esporte


Baralhos inspirados na literatura desenvolvem a capacidade intelectual de seus participantes

Reportagem Artur Lira 

Jogadores aquecem seus baralhos para torneio da DCI no Chile
(Foto: Divulgação)



Muitos podem não saber, mas os TCGs (Trading Card Games) são jogos de cartas variados, lúdicos e criativos. Eles têm suas próprias regras,nas quais os jogadores criam estratégias específicas combinando as cartas com os seus objetivos. A atividade, considerada até uma forma de esporte da mente, anda despertando o interesse de universitários.

Segundo o jogador de TCG há mais de 15 anos e mestrando em Ciências Políticas, João Ricardo Zimmer, “o Magic [primeiro TCG criado, há mais de 20 anos] é um jogo que pode se encaixar na mesma categoria de ‘esportes da mente’, assim como o xadrez e o pôquer, um jogo com uma estratégia muito avançada”, relata.  De acordo com Zimmer, as partidas de Magic contêm vários elementos de fantasia, como anjos, demônios e até elfos, na esteira de inspiração de autores como Tolkien, da trilogia Senhor dos Anéis, um clássico da literatura de fantasia juvenil. As cartas têm toda uma história que justifica um duelo estratégico entre os jogadores.

Os TCGs teriam se desenvolvido ao longo das sessões dos chamados RPGs (Role Playing Games), jogos baseados na interpretação e estratégia.
Seus praticantes são controladores de criaturas e magias, às vezes ligadas aos mitos do mal. “Isso acaba gerando preconceito perante a opinião pública. Esperamos que as pessoas procurem conhecer mais ao invés de encontrar uma imagem na internet de uma carta de ‘criatura-demônio’ e criticar o jogo por isso”, explica o mestrando e praticante do TCG.

Jogador há 14 anos e estudante de Direito, Caio Vinicius Oleskovicz Martins, concorda com Zimmer. “Magic trabalha com a mente, tal como o xadrez. Ele possui premiação e cenário competitivo, além de regras específicas para o jogo dentro de campeonatos. Sem dúvida, é um esporte”, opina.

Segundo o estudante, existem campeonatos regulares voltados para o jogo no mundo todo — estas disputas organizadas incluem torneios nas lojas das cidades, até grandes competições internacionais, organizadas pela DCI (Convocação Internacional de Duelistas) e não envolvem nenhum tipo de aposta, ou seja, mantêm o espírito da disputa esportiva.

Estima-se que existam três ou quatro lojas em Curitiba com estrutura adequada para trocas, jogos casuais e torneios regulares de TCG realizados; de duas a cinco vezes por semana. São justamente as bases de jogadores reunidas nas lojas que formam vencedores, conta Zimmer. “Temos uma base sólida de jogadores em Curitiba, incluindo o campeão nacional de 2008, Vagner Casatti”, conta.

Para o mestrando, o jogo de cartas é mais que um hobby: “Além da curiosidade do Magic ter pago vários meses da minha faculdade, o jogo sempre foi uma coisa relaxante na minha vida. Ajuda a me distrair, divertir com os amigos, viajar para jogar. No momento que não me divertir mais com o jogo, eu paro”, pontua. É comum receber dinheiro em troca de cartas valorizadas (algumas cartas chegam a ter o seu preço aumentado em até dez vezes) e se valer de premiações de torneios —a recompensa chega a valores de até 80 mil reais.
Carta de Magic, um dos primeiros TCGs
Ilustração: Todd Luckwood
Os Trading Card Games vem conquistando cada vez mais o público devido às suas particularidades. “A principal diferença em relação a outros jogos de carta é que a modalidade possui uma imensa variedade de ações e ‘objeções’, visto que você pode jogar no turno do adversário, — enfim, é extremamente complexo mesmo tendo regras simples. Ele ainda tem uma gigantesca gama de cartas que permite montar praticamente qualquer coisa’’, explica o estudante de Direito. Segundo ele, — a base de jogadores é expressivamente grande, o que significa adversários diferentes e modos de pensar interessantes.



O dinheiro é um fator importante, mas não único para a vitória. “Montar um deck[conjunto de cartas] de R$ 5 mil não é garantia para ganhar, mas um jogador competente com um deck desse valor, bem montado, com boa sinergia e estratégias, tende a ir longe nos torneios. Entretanto, existem vários modos de jogo. O 'pauper' éum exemplo, no qual as cartas comuns [cada carta é classificada como mítica, rara, incomum e comum] são as únicas permitidas”, relata Martins. Nesse modo de jogo, o baralho é barato e a habilidade - tanto de criação quanto de jogo - é mais levada em conta que o dinheiro.

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