Jogos de carta despertam interesse de estudantes como esporte
Baralhos inspirados na literatura desenvolvem a capacidade intelectual de seus participantes
Reportagem Artur Lira
Jogadores aquecem seus baralhos para torneio da DCI no Chile (Foto: Divulgação) |
Muitos
podem não saber, mas os TCGs (Trading Card Games) são jogos de cartas variados,
lúdicos e criativos. Eles têm suas próprias regras,nas quais os jogadores criam
estratégias específicas combinando as cartas com os seus objetivos. A
atividade, considerada até uma forma de esporte da mente, anda despertando o
interesse de universitários.
Segundo
o jogador de TCG há mais de 15 anos e mestrando em Ciências Políticas, João
Ricardo Zimmer, “o Magic [primeiro TCG criado, há mais de 20 anos] é um jogo
que pode se encaixar na mesma categoria de ‘esportes da mente’, assim como o
xadrez e o pôquer, um jogo com uma estratégia muito avançada”, relata. De acordo com Zimmer, as partidas de Magic
contêm vários elementos de fantasia, como anjos, demônios e até elfos, na
esteira de inspiração de autores como Tolkien, da trilogia Senhor dos Anéis, um clássico da literatura de fantasia juvenil. As
cartas têm toda uma história que justifica um duelo estratégico entre os
jogadores.
Os TCGs teriam se desenvolvido ao longo das sessões dos
chamados RPGs (Role Playing Games), jogos baseados na interpretação e
estratégia.
Seus praticantes
são controladores de criaturas e magias, às vezes ligadas aos mitos do mal. “Isso
acaba gerando preconceito perante a opinião pública. Esperamos que as pessoas
procurem conhecer mais ao invés de encontrar uma imagem na internet de uma
carta de ‘criatura-demônio’ e criticar o jogo por isso”, explica o mestrando e
praticante do TCG.
Jogador
há 14 anos e estudante de Direito, Caio Vinicius Oleskovicz Martins, concorda
com Zimmer. “Magic trabalha com a mente, tal como o xadrez. Ele possui
premiação e cenário competitivo, além de regras específicas para o jogo dentro
de campeonatos. Sem dúvida, é um esporte”, opina.
Segundo
o estudante, existem campeonatos regulares voltados para o jogo no mundo todo —
estas disputas organizadas incluem torneios nas lojas das cidades, até grandes
competições internacionais, organizadas pela DCI (Convocação
Internacional de Duelistas) e não envolvem nenhum tipo de aposta,
ou seja, mantêm o espírito da disputa esportiva.
Estima-se que existam três ou quatro lojas em Curitiba com estrutura adequada para trocas, jogos casuais e torneios regulares de TCG realizados; de duas a cinco vezes por semana. São justamente as bases de jogadores reunidas nas lojas que formam vencedores, conta Zimmer. “Temos uma base sólida de jogadores em Curitiba, incluindo o campeão nacional de 2008, Vagner Casatti”, conta.
Para
o mestrando, o jogo de cartas é mais que um hobby: “Além da curiosidade do
Magic ter pago vários meses da minha faculdade, o jogo sempre foi uma coisa
relaxante na minha vida. Ajuda a me distrair, divertir com os amigos, viajar
para jogar. No momento que não me divertir mais com o jogo, eu paro”, pontua. É
comum receber dinheiro em troca de cartas valorizadas (algumas cartas chegam a
ter o seu preço aumentado em até dez vezes) e se valer de premiações de
torneios —a recompensa chega a valores de até 80 mil reais.
Carta de Magic, um dos primeiros TCGs Ilustração: Todd Luckwood |
O
dinheiro é um fator importante, mas não único para a vitória. “Montar um deck[conjunto
de cartas] de R$ 5 mil não é garantia para ganhar, mas um jogador competente
com um deck desse valor, bem montado, com boa sinergia e estratégias,
tende a ir longe nos torneios. Entretanto, existem vários modos de jogo. O
'pauper' éum exemplo, no qual as cartas comuns [cada carta é classificada como
mítica, rara, incomum e comum] são as únicas permitidas”, relata Martins. Nesse
modo de jogo, o baralho é barato e a habilidade - tanto de criação quanto de
jogo - é mais levada em conta que o dinheiro.
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