A menos de um mês para o
primeiro jogo do Mundial, comerciantes curitibanos buscam otimizar seus ganhos.
Reportagem Gabriele Maniezo
A
23 dias da abertura da Copa do Mundo no Brasil, a
expectativa dos pequenos empresários de Curitiba que investiram tempo e
dinheiro para faturar com os jogos aumenta. Em paralelo aos gastos astronômicos
de infraestrutura urbana, providenciados pelo Governo, alguns comerciantes se
prepararam para, de forma bem mais modesta, lucrar com a venda de produtos
temáticos e serviços especiais aos turistas.
Para o professor de economia da Universidade Federal do
Paraná (UFPR) Fabiano Dalto, a grande questão é “o quanto vão se beneficiar
estes pequenos negócios em relação ao conjunto de benefícios que uma Copa do
Mundo pode trazer”. Das experiências de Copas anteriores, o resultado costuma
se repetir: o impacto direto aos pequenos negócios é quase que insignificante.
“Grandes investimentos são carimbados”, afirma. A Copa
apenas reforça o sistema econômico brasileiro que já é desigual por si só.
“Sistema desigual não faz milagre”, reitera Dalto. A construção de estádios, a
reestruturação da mobilidade urbana e a reforma do sistema viário são os
grandes fins para os investimentos governamentais.
“Não vai dar certo”
Há quatro anos, quando começaram as reformas das arenas
esportivas, se comentava, inclusive pela mídia, que o Brasil não conseguiria
terminar a tempo todos os preparativos para o megaevento mundial. Para o
professor, esse clima de ‘não vai dar certo’ dificultou uma ação sensata por
parte do governo. Falou-se tanto, que a preocupação se voltou apenas para fazer
dar certo – não importava mais como.
Uma postura mais confiante proporcionaria ao governo a
possibilidade de bater de frente com a FIFA, a organizadora da Copa do Mundo, e
exigir benefícios mais igualitários. “Não houve o respaldo necessário, por
exemplo, para que nos estádios fossem vendidos produtos de fornecedores locais,
como foi na Copa da Alemanha de 2006”, assegura o economista.
Segundo
o professor, um bom jeito de se favorecer os comerciantes locais seria a
organização de uma feira no centro histórico de Curitiba a cada jogo, que
contasse com telão, barracas para alimentação e show de bandas locais antes e
depois do jogo. Dessa maneira, os milhares de curitibanos e turistas que
estivessem do lado de fora da Arena poderiam contribuir para o comércio local.
Mas, isso deveria ter sido pensado pela prefeitura e instituições públicas e do
setor produtivo locais.
Avessos ao sentimento de que não vai dar certo, pequenos
negócios curitibanos se preparam para a vinda dos turistas. Segundo Dalto, os pequenos hotéis dentro do grande
setor hoteleiro devem se beneficiar. “O poder aquisitivo do público que virá é
muito variado. Quem vem de muito longe e já gastou muito com a passagem, não
vai querer gastar muito com hotel cinco estrelas”, acredita. O bom atendimento
será o diferencial na hora de o turista avaliar uma posterior viagem futura.
Um
grande problema dos pequenos empresários é que muitas vezes estes não conseguem
mensurar que os reais ganhos devem vir depois da Copa. O importante em eventos
grandes como esse não é focar em se preparar apenas para os dias de acontecimento
e pensar que o lucro deste momento será muito significativo, pois esse será
passageiro. A qualidade do serviço é o que assegurará futuros clientes, que são
responsáveis pelo lucro real.
O que está sendo feito
No setor de moda
e design, há bons exemplos de comerciantes que se prepararam para atender
brasileiros e estrangeiros. Uma coleção inteira de luminárias foi desenvolvida
pensando na Copa pela loja Grey House, da lighting designer Adriana Sypniewski.
A linha conta com doze modelos, entre abajures de chão e de teto. “Representam
os onze jogadores mais a torcida”, explica. Na concepção dos produtos, ela
privilegiou o uso de materiais recicláveis, como tecidos e madeira, além de
lâmpadas de LED.
A coleção Paixão Nacional conta com 12 modelos inspiradas na paixão pelo futebol. |
Sypniewski não
tem certeza sobre o quanto a Copa será benéfica para seu negócio, mas afirma
que pretende fazer o melhor que puder para que o impacto seja positivo. “A
gente procura seguir o que está acontecendo no mundo, temos que estar
antenados. Com a Copa não ia ser diferente”, afirma.
Já no setor
gastronômico, Letícia Rocha Malinowski, uma das sócias do Bisa Basílio Café,
conta com a localização a poucos metros da Arena da Baixada para pontuar o
aspecto positivo e o negativo. “Este período pré-Copa está sendo bem
complicado.Com as reformas da região da Avenida das Torres, nossos clientes
reduziram a frequência por conta do trânsito”, explica. Isso sem contarcom as
complicações de cadastramento de funcionários para poderem frequentar a região
nos dias de jogos.
Além dos cafés diferenciados, o Bisa Basílio Café conta com pratos especiais para quem quer conhecer a culinária brasileira. |
Entretanto, a
empresária afirma que a expectativa para depois da Copa é alta, pois, com a
infraestrutura melhorada, novos clientes poderão conhecer o Bisa Basílio. Para
o período de jogos, a proprietária organizou uma reestruturação do cardápio,
adequando ingredientes novos para os turistas estrangeiros. “Vários de nossos
pratos não levavam feijão, por exemplo, e nós vamos colocar durante a Copa”,
exemplifica. Doces típicos brasileiros, como a cocada e o brigadeiro, também
entraram no menu.
Existe uma grande dificuldade operacional para se calcular o
real benefício que estes pequenos negócios terão. Para o professor de economia,
essa dificuldade entra também no próprio julgamento de cada comerciante sobre o
que é, para ele, considerado um benefício.
“De início, a visão é que o impacto será pequeno, mas isso
não significa que será insignificante”, pontua. A melhora do sistema viário e
de infraestrutura urbana, apesar de não oferecer lucro direto aos pequenos
empresários, lhes oferece indiretamente melhorias. Segundo o professor, a
distribuição de investimentos governamentais “não foi uma maravilha, mas
poderia ter sido pior”.
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