Comida saborosa com
gosto caseiro e preços honestos. Assim se define a baixa gastronomia que vem
sendo valorizada pela mídia.
Amanda Pupo
Entre
batismos e definições, a Baixa Gastronomia origina aquela comida que qualquer
um já experimentou. “Ninguém
come comida sofisticada todos os dias. Não conheço ninguém que não goste de
pastel, feijão, arroz e ovo mole. As lembranças afetivas que temos de nossa
infância são ligadas a alimentos simples”, afirma o degustador Sérgio Medeiros.
Ele, que também é editor do site Curitiba
Honesta, guia de bares e restaurantes com preços aceitáveis, registra que a baixa gastronomia ou qualquer
nome que se dê para comida simples sempre existiu, inclusive nas casas das
pessoas.
Em 1981, o livro “Comidas de Botequim”, escrito por Judith
de Carvalho, dizia que, em lugares para comer que são honestos, a clientela é
fiel, sabe-se que vai comer bem e fartamente, e por um preço justo. Há uns sete
anos, Heloísa Seixas, jornalista e esposa do também jornalista e escritor Ruy
Castro, levou o crédito de autoria pela expressão Baixa Gastronomia, que batiza
com nome e sobrenome o que Carvalho, autora também de “1001 receitas”, dizia
sobre a comida simples, gostosa e barata ainda no século passado.
Curitiba Honesta foi criado em setembro do ano passado e hoje já
apresenta 50 mil acessos mensais (crédito/Amanda Pupo)
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De gosto caseiro e sem
sofisticações, a Baixa Gastronomia pode não ganhar a publicidade e a autoridade
que a cozinha Gourmet — de preço majoritariamente salgado e chamada também de
Alta Gastronomia — tem em nosso dia a dia, mas vem cada vez mais ganhando atenção
para que qualquer um chegue a saboreá-la. Isso porque os restaurantes, bares e
botequins onde ela é comercializada ganharam de alguns anos para cá o foco da
mídia que aprecia e é fascinada pela comida boa e barata.
Em 2012, o site do jornal Gazeta do Povo abriu espaço para o blog BG, Curitiba Baixa Gastronomia. Lá,
Rafael Martins e Guilherme Caldas descrevem sobre comidas, lugares, eventos
onde o valor baixo e a culinária é altamente saborosa. “Tudo começou
justamente do nosso gosto por lugares que servem uma comida ótima, mas que
raramente ou nunca ganham as páginas da imprensa especializada”, conta o
jornalista Rafael Martins. No início, o espaço no site era destinado somente a
um mapa desses lugares, depois virou blog, e hoje conta também com uma coluna
da Revista “Bom Gourmet” encartada na Gazeta
do Povo.
Outro
endereço em que se pode encontrar listas e resenhas de lugares apetitosos é o
site Curitiba Honesta, já citado,
criado em setembro de 2013. Lá o leitor também pode se achar em mapas e
rankings das resenhas mais lidas, o que ajuda a orientar o visitante. Tanto o Curitiba Honesta como o blog BG vão sendo construídos
coletivamente com o leitor. “Fico
de olho em lugares que abrem, mas também recebo muitas indicações de leitores do
Curitiba Honesta e vou pessoalmente
aos lugares”, conta Sérgio Medeiros.
Hora de parar com a gourmetização
A cobertura midiática é prova de
que o interesse pela Baixa Gastronomia vem aumentando. Para Martins, as pessoas estão reagindo à
“chatíssima e vazia” gourmetização dos pratos. “Uma coxinha gourmet custa R$
20, em vez dos R$ 2, que a padaria da esquina iria te cobrar. Sempre que se
deparar com a palavra gourmet, proteja a carteira”, brinca o jornalista. Tanto Guilherme
como Martins acreditam que tudo isto está impulsionando o reconhecimento da
Baixa Gastronomia. “A crescente valorização dos restaurantes simples e de
comida boa e barata típicos da BG é uma busca pela honestidade. O que, nesses
tempos de pingado gourmet, é muito salutar”, sugere Martins.
Festival do Pão com Bolinho
Recentemente, Curitiba abrigou um
evento que representa a Baixa Gastronomia. Nos mesmos dias de maio em que
acontecia o CWBurger Fest, com hamburgueres vendidos à R$ 24,90, o Primeiro
Festival do Pão com Bolinho fazia sucesso nos bares e nas redes sociais.
Organizado por Sérgio Medeiros, do Curitiba
Honesta, o evento contou com 12 lugares vendendo o tradicional sanduíche
curitibano recheado com bolinho de carne ao preço único de R$ 5,90, trazendo inclusive
a opção vegetariana. “Fizemos o pão com bolinho porque ele é muito
característico de Curitiba, tem nas lanchonetes da rodoviária e em muitos bares
pela cidade. Além de que dificilmente se encontra em outras cidades”, conta
Medeiros, que pretende fazer a segunda edição do festival em maio do ano que
vem.
Pão com Bolinho do Bar CanaBenta. Assim como os outros pratos do festival, era vendido por R$5,90. (crédito/acervo site Curitiba Honesta) |
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