Segundo informações divulgadas pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (Capes), apenas 1% dos
vestibulandos escolhe a carreira científica
Arthur do Carmo
A orientação na escolha profissional não
faz parte dos currículos das escolas de ensino médio ou fundamental. As
dificuldades que os estudantes enfrentam ao pensar em optar por uma carreira
diante de tantas possibilidades acaba se refletindo no número de evasão das
universidades. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas, Ministério da
Educação (INEP/MEC), há uma desistência de 40% nos
cursos de graduação do país. Mas as carreiras científicas enfrentam um problema
ainda maior, que é a não opção pelos vestibulandos, que ocorre principalmente
pela falta de informação.
Segundo dados divulgados pela Coordenação
de Aperfeiçoamento de Nível Superior (Capes), apenas 1% dos vestibulandos
escolhe a carreira científica, nas áreas
de ciências biológicas e exatas, gerando, por exemplo, uma carência de cerca de
70 mil professores de Física no país.
A neuropsicologista e orientadora vocacional Bianca
Bortolini, mestre em educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUC-PR), afirma que a escolha da profissão deve seguir critérios rigorosos,
para que os estudantes não se frustrem com a opção realizada. Além do
aconselhamento profissional, ela destaca dois pontos principais: “O que eu peço
para os meus pacientes são duas coisas após chegarmos a um número pequeno de
opções profissionais, geralmente três. Primeiro, que ele consulte algum
almanaque de profissões. O que eu mais recomendo é o Guia do Estudante da Editora Abril, onde ele irá encontrar um
descritivo a respeito das profissões, quais são os melhores cursos no país,
qual é o salário médio inicial, quanto tempo vai durar o curso, além de contar
um pouco a respeito da vida profissional de cada profissão.”, afirma a profissional.
A outra medida funciona através do que Bortolini chama de “pequena convivência”.
“Eu oriento uma convivência profissional com alguém da área. Essa pequena
convivência é fundamental para o estudante tirar dúvidas sobre a carreira e
observar como ela funciona na prática, para conhecer a realidade da profissão”,
comenta.
Com a intenção de aproximar os estudantes
do cotidiano da profissão, foi lançado ano passado um portal que se propõe a
auxiliar alunos do ensino médio a compreenderem a carreira de cientista. Em
linguagem acessível aos alunos que acabaram de ingressar no nível médio, o
portal batizado Proficiência (proficiencia.org.br) reúne informações que vão desde o que é
ser um cientista até quais as atividades que cada área em geral e profissões
científicas em particular desenvolvem.
A responsável pelo projeto, jornalista
Elisa Oswaldo-Cruz, assessora de imprensa da Academia Brasileira de Ciências
(ABC), teve a ideia ao perceber que havia um rico material de entrevistas sobre
o cotidiano dos cientistas ligados à ABC que estava restrito à própria
comunidade científica, e que poderia auxiliar os estudantes que iriam prestar o
vestibular.
O aluno do 2o ano do Ensino Médio
do Colégio Estadual do Paraná Felipe Poveda quer seguir a carreira de Físico,
mas tem receio de restringir sua atuação a de professor. “Eu não conheço muito
bem ainda como posso trabalhar com Física a não ser como professor. Não que eu não
queira dar aula, mas quero continuar estudando o que eu gosto, que são os
problemas de Física”, comenta o aluno, que diz já ter se decidido por essa
área.
O Portal Proficiência traz entrevistas com profissionais das áreas científicas, aproximando estudantes do cotidiano das carreiras. Fonte: Reprodução. |
Auxílio
à orientação feita pelos próprios professores
Além de indicar os traços das profissões e
canais de informação que podem auxiliar os alunos a escolherem as suas
carreiras, como o Portal Proficiência,
os professores podem encontrar outros meios de descobrir o perfil de seus
alunos e assim ajudá-los de maneira mais precisa. É o que propõe o Observatório
Ibero-americano de Ciência, Tecnologia e Sociedade, que publicou em 2011 um
livro chamado “Os estudantes e a ciência: pesquisa com jovens ibero-americanos”,
em que pesquisadores brasileiros do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo
(Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) constataram que a
principal fonte de informações sobre ciência e tecnologia dos estudantes do
Ensino Médio e Fundamental ainda é a televisão, e que apenas 2,7% dos jovens
entre 15 a 19 anos pensam na opção por uma carreira científica.
Outros resultados ainda apontam que 78%
não pensam nessa carreira por acharem as ciências exatas e naturais “muito
difíceis”, enquanto um quarto acreditam
que tais áreas oferecem oportunidades limitadas de emprego. O livro, que está
disponível no site do Centro de Altos Estudos Universitários da Organização dos
Estados Ibero-americanos (OEI) e pode ser acessado aqui,
se constitui como importante ferramenta para educadores e orientadores
vocacionais.
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