sábado, 7 de junho de 2014

A difícil escolha pelas carreiras científicas

Segundo informações divulgadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (Capes), apenas 1% dos vestibulandos escolhe a carreira científica


Arthur do Carmo

A orientação na escolha profissional não faz parte dos currículos das escolas de ensino médio ou fundamental. As dificuldades que os estudantes enfrentam ao pensar em optar por uma carreira diante de tantas possibilidades acaba se refletindo no número de evasão das universidades. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas, Ministério da Educação (INEP/MEC), há uma desistência de 40% nos cursos de graduação do país. Mas as carreiras científicas enfrentam um problema ainda maior, que é a não opção pelos vestibulandos, que ocorre principalmente pela falta de informação.

Segundo dados divulgados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (Capes), apenas 1% dos vestibulandos escolhe a carreira científica, nas  áreas de ciências biológicas e exatas, gerando, por exemplo, uma carência de cerca de 70 mil professores de Física no país.

A  neuropsicologista e orientadora vocacional Bianca Bortolini, mestre em educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), afirma que a escolha da profissão deve seguir critérios rigorosos, para que os estudantes não se frustrem com a opção realizada. Além do aconselhamento profissional, ela destaca dois pontos principais: “O que eu peço para os meus pacientes são duas coisas após chegarmos a um número pequeno de opções profissionais, geralmente três. Primeiro, que ele consulte algum almanaque de profissões. O que eu mais recomendo é o Guia do Estudante da Editora Abril, onde ele irá encontrar um descritivo a respeito das profissões, quais são os melhores cursos no país, qual é o salário médio inicial, quanto tempo vai durar o curso, além de contar um pouco a respeito da vida profissional de cada profissão.”, afirma a profissional. A outra medida funciona através do que Bortolini chama de “pequena convivência”. “Eu oriento uma convivência profissional com alguém da área. Essa pequena convivência é fundamental para o estudante tirar dúvidas sobre a carreira e observar como ela funciona na prática, para conhecer a realidade da profissão”, comenta.

Com a intenção de aproximar os estudantes do cotidiano da profissão, foi lançado ano passado um portal que se propõe a auxiliar alunos do ensino médio a compreenderem a carreira de cientista. Em linguagem acessível aos alunos que acabaram de ingressar no nível médio, o portal batizado Proficiência (proficiencia.org.br) reúne informações que vão desde o que é ser um cientista até quais as atividades que cada área em geral e profissões científicas em particular desenvolvem. 

A responsável pelo projeto, jornalista Elisa Oswaldo-Cruz, assessora de imprensa da Academia Brasileira de Ciências (ABC), teve a ideia ao perceber que havia um rico material de entrevistas sobre o cotidiano dos cientistas ligados à ABC que estava restrito à própria comunidade científica, e que poderia auxiliar os estudantes que iriam prestar o vestibular. 

O aluno do 2o ano do Ensino Médio do Colégio Estadual do Paraná Felipe Poveda quer seguir a carreira de Físico, mas tem receio de restringir sua atuação a de professor. “Eu não conheço muito bem ainda como posso trabalhar com Física  a não ser como professor. Não que eu não queira dar aula, mas quero continuar estudando o que eu gosto, que são os problemas de Física”, comenta o aluno, que diz já ter se decidido por essa área. 


O Portal Proficiência traz entrevistas com profissionais das áreas científicas, aproximando estudantes do cotidiano das carreiras. Fonte: Reprodução.




Auxílio à orientação feita pelos próprios professores

Além de indicar os traços das profissões e canais de informação que podem auxiliar os alunos a escolherem as suas carreiras, como o Portal Proficiência, os professores podem encontrar outros meios de descobrir o perfil de seus alunos e assim ajudá-los de maneira mais precisa. É o que propõe o Observatório Ibero-americano de Ciência, Tecnologia e Sociedade, que publicou em 2011 um livro chamado “Os estudantes e a ciência: pesquisa com jovens ibero-americanos”, em que pesquisadores brasileiros do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) constataram que a principal fonte de informações sobre ciência e tecnologia dos estudantes do Ensino Médio e Fundamental ainda é a televisão, e que apenas 2,7% dos jovens entre 15 a 19 anos pensam na opção por uma carreira científica.

Outros resultados ainda apontam que 78% não pensam nessa carreira por acharem as ciências exatas e naturais “muito difíceis”, enquanto  um quarto acreditam que tais áreas oferecem oportunidades limitadas de emprego. O livro, que está disponível no site do Centro de Altos Estudos Universitários da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) e pode ser acessado aqui, se constitui como importante ferramenta para educadores e orientadores vocacionais.  



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