quinta-feira, 5 de junho de 2014

Iniciativa insere jovens em discussões sobre política

Projeto Theorein, do Colégio Medianeira, coloca alunos do Ensino Médio em contato com a política paranaense para a formação de uma sociedade mais justa

Bruna Junskowski

Em 2013, alunas do segundo ano do Ensino Médio, conseguem uma entrevista com o Presidente da Assembleia Legislativa, Valdir Rossoni. (Foto: Jerson Darif) 
Levar alunos a se aproximarem do parlamento para que se tornem adultos mais críticos em relação à política é o objetivo de um projeto criado em 2012, no Colégio Medianeira, de Curitiba. O Projeto Theorein procura inserir a preocupação com o futuro político do Paraná em alunos do primeiro e segundo ano do Ensino Médio, como forma de promover uma sociedade mais justa.

Idealizado pelo professor de filosofia Jerson Darif, 43, o projeto surgiu de uma inquietação do docente ao observar jovens de 14 a 16 anos reproduzirem o discurso de adultos: de que a política e o Estado não funcionam. Segundo ele, a falta de acompanhamento do trabalho dos políticos e a veiculação de escândalos no governo por parte da mídia afastam a população da política. “A partir dessa percepção, procurei uma maneira para que eles pudessem chegar mais perto dos parlamentares e ter um juízo melhor, com suas próprias conclusões. Sem intervenções da mídia”.

Atualmente, o projeto conta com a participação do professor de filosofia do primeiro ano do Ensino Médio, Carlos Torra, e os professores de geografia e história do Colégio Medianeira. 

O funcionamento do projeto é dividido em três trimestres em que se busca formar uma consciência cidadã e política nos alunos. No primeiro, os estudantes realizam uma leitura teórica sobre o surgimento dos partidos políticos e fazem uma visita ao diretório de um dos partidos para analisar se as pessoas que trabalham nos diretórios conhecem a tipologia partidária.

No segundo semestre, os grupos, formados por seis alunos, buscam contato direto com um vereador – para os alunos do primeiro ano – ou um deputado – para alunos do segundo ano. Nesta etapa, os grupos devem monitorar as atividades do parlamentar: observar se ele comparece ao Plenário, quanto recebe e quanto gasta, se já se envolveu em algum escândalo, entre outras questões. É preciso fazer um mapeamento de como o parlamentar atua e fazer um esforço para conseguir uma entrevista.

O trabalho no terceiro trimestre é diferenciado. Segundo Darif, a proposta é estudar filosofia política com música. “É um trabalho para perceber os movimentos de contestação política, que ocorreram no mundo a partir dos anos 1950, com uma ponte com o rock ‘n roll”, explica.

Heloísa Nerone, 16, aluna do segundo ano do Ensino Médio, já se interessava por política e o projeto só veio a acrescentar. Para ela, a iniciativa é importante porque o aluno é independente, tem a autonomia para marcar entrevistas e ir até os locais onde os políticos estão. “Além de entrar em contato com as pessoas da politica e ter a sensibilização sobre os poderes e suas funções, o trabalho não é pesado porque é muito dinâmico”, conta ela.

Os benefícios

Rodrigo Siguimura, 17, estudante de jornalismo da PUC/PR, participou do Projeto Theorein em 2012 e, na época, não tinha interesse em política. Para ele, a percepção política estava baseada no senso comum da crítica aos parlamentares. Hoje, Rodrigo planeja criar um programa político, já que é ano de eleições, para promover a discussão sobre os candidatos. “Com o projeto, a curiosidade em relação ao tema aumentou. 
Tenho muito mais interesse por esse meio do que tinha antes”, explica.

Para o professor de Ciência Política da faculdade de direito da UFPR Fabrício Tomio, 44, esse tipo de projeto tende a fazer com que os alunos envolvidos tenham um grau de engajamento mais elevado no futuro. Tomio acredita que as atividades propostas são interessantes porque mostram aos alunos o que os representantes fazem e como funciona a Câmara de Vereadores e a Assembleia Legislativa. “Há um descompasso entre o que se acredita que os representantes fazem, o que se espera que façam e qual é o papel institucional deles, de fato”.

Duas alunas do projeto já garantiram que pretendem iniciar uma carreira política. Outros alunos se inseriram em alas juvenis de partidos políticos. Para o professor do Projeto Theorein, Jerson Darif, tão importante quanto essas atitudes, são as discussões sobre política que tem se tornado mais corriqueiras. “Eles têm tido a percepção que não podemos ficar apenas com as narrativas que são construídas sobre os políticos, que devem pesquisar por si próprios”, acrescenta

Heloísa Nerone é um exemplo dessa afirmação. As eleições de 2014 serão a primeira que participará e acredita que está preparada. Ainda em dúvida sobre qual carreira seguir, ela tem certeza de que é obrigação dos eleitores ir atrás dos candidatos. “A cada dois anos, tem eleição. Pesquisar é um esforço muito pequeno, considerando que os mandatos duram quatro anos”, justifica.

Recusa dos parlamentares

A dificuldade do projeto está em sua própria essência: os políticos. Segundo Darif, a maioria dos parlamentares a serem monitorados se recusa em falar com os alunos. Mesmo os assessores de imprensa, pelos quais os estudantes devem entram em contato para colher as informações necessárias, são rudes.

De acordo com o professor coordenador, cerca de 80% dos parlamentares não respondem e-mails, não tem páginas no Facebook ou, se tem, não respondem, da mesma maneira que os sites são muito desatualizados. “A indiferença dos políticos em relação aos alunos é muito saliente. A grande maioria não está preparada para ser questionada”.

Um caso que chamou a atenção do professor e dos alunos foi a rejeição inicial de uma assessora de imprensa em ceder uma entrevista aos estudantes. Após saber que eram alunos do Colégio Medianeira, ela aceitou. Conforme o professor, a assessora inicialmente se recusou por imaginar que se tratava de estudantes de escola pública.

Para o professor Tomio não há motivo para tal recusa e a atitude não é razoável, pois revela que os políticos em questão acham que não devem prestar contas a esses jovens. “Não sei se prestam conta para quem eles acreditam ser seus eleitores, muitas vezes não. Mas isso implica um certo desdém na obrigação de fazer isso”, interpreta.

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