Projeto Theorein, do Colégio Medianeira, coloca alunos do
Ensino Médio em contato com a política paranaense para a formação de uma
sociedade mais justa
Bruna Junskowski
Em 2013, alunas do segundo ano do Ensino Médio, conseguem uma entrevista com o Presidente da Assembleia Legislativa, Valdir Rossoni. (Foto: Jerson Darif) |
Levar alunos a se aproximarem do parlamento para que se
tornem adultos mais críticos em relação à política é o objetivo de um projeto
criado em 2012, no Colégio Medianeira, de Curitiba. O Projeto Theorein procura
inserir a preocupação com o futuro político do Paraná em alunos do primeiro e
segundo ano do Ensino Médio, como forma de promover uma sociedade mais justa.
Idealizado pelo professor de filosofia Jerson Darif, 43, o
projeto surgiu de uma inquietação do docente
ao observar jovens de 14 a 16 anos reproduzirem o discurso de adultos: de que a
política e o Estado não funcionam. Segundo ele, a falta de acompanhamento do
trabalho dos políticos e a veiculação de escândalos no governo por parte da
mídia afastam a população da política. “A partir dessa percepção, procurei uma
maneira para que eles pudessem chegar mais perto dos parlamentares e ter um
juízo melhor, com suas próprias conclusões. Sem intervenções da mídia”.
Atualmente, o projeto conta com a participação do professor
de filosofia do primeiro ano do Ensino Médio, Carlos Torra, e os professores de
geografia e história do Colégio Medianeira.
O funcionamento do projeto é dividido em três trimestres em que
se busca formar uma consciência cidadã e política nos alunos. No primeiro, os estudantes realizam
uma leitura teórica sobre o surgimento dos partidos políticos e fazem uma
visita ao diretório de um dos partidos para analisar se as pessoas que trabalham
nos diretórios conhecem a tipologia partidária.
No segundo semestre, os grupos, formados por seis alunos,
buscam contato direto com um vereador – para os alunos do primeiro ano – ou um
deputado – para alunos do segundo ano. Nesta etapa, os grupos devem monitorar
as atividades do parlamentar: observar se ele comparece ao Plenário, quanto
recebe e quanto gasta, se já se envolveu em algum escândalo, entre outras
questões. É preciso fazer um mapeamento de como o parlamentar atua e fazer um
esforço para conseguir uma entrevista.
O trabalho no terceiro trimestre é diferenciado. Segundo Darif,
a proposta é estudar filosofia política com música. “É um trabalho para
perceber os movimentos de contestação política, que ocorreram no mundo a partir
dos anos 1950, com uma ponte com o rock ‘n roll”, explica.
Heloísa Nerone, 16, aluna do segundo ano do Ensino Médio, já
se interessava por política e o projeto só veio a acrescentar. Para ela, a
iniciativa é importante porque o aluno é independente, tem a autonomia para
marcar entrevistas e ir até os locais onde os políticos estão. “Além de entrar
em contato com as pessoas da politica e ter a sensibilização sobre os poderes e
suas funções, o trabalho não é pesado porque é muito dinâmico”, conta ela.
Os benefícios
Rodrigo Siguimura, 17, estudante de jornalismo da PUC/PR,
participou do Projeto Theorein em 2012 e, na época, não tinha interesse em
política. Para ele, a percepção política estava baseada no senso comum da
crítica aos parlamentares. Hoje, Rodrigo planeja criar um programa político, já
que é ano de eleições, para promover a discussão sobre os candidatos. “Com o
projeto, a curiosidade em relação ao tema aumentou.
Tenho muito mais interesse
por esse meio do que tinha antes”, explica.
Para o professor de Ciência Política da faculdade de direito
da UFPR Fabrício Tomio, 44, esse tipo de projeto tende a fazer com que os
alunos envolvidos tenham um grau de engajamento mais elevado no futuro. Tomio
acredita que as atividades propostas são interessantes porque mostram aos
alunos o que os representantes fazem e como funciona a Câmara de Vereadores e a
Assembleia Legislativa. “Há um descompasso entre o que se acredita que os
representantes fazem, o que se espera que façam e qual é o papel institucional
deles, de fato”.
Duas alunas do projeto já garantiram que pretendem iniciar
uma carreira política. Outros alunos se inseriram em alas juvenis de partidos
políticos. Para o professor do Projeto Theorein, Jerson Darif, tão importante
quanto essas atitudes, são as discussões sobre política que tem se tornado mais
corriqueiras. “Eles têm tido a percepção que não podemos ficar apenas com as
narrativas que são construídas sobre os políticos, que devem pesquisar por si
próprios”, acrescenta
Heloísa Nerone é um exemplo dessa afirmação. As eleições de
2014 serão a primeira que participará e acredita que está preparada. Ainda em
dúvida sobre qual carreira seguir, ela tem certeza de que é obrigação dos
eleitores ir atrás dos candidatos. “A cada dois anos, tem eleição. Pesquisar é
um esforço muito pequeno, considerando que os mandatos duram quatro anos”,
justifica.
Recusa dos
parlamentares
A dificuldade do projeto está em sua própria essência: os
políticos. Segundo Darif, a maioria dos parlamentares a serem monitorados se
recusa em falar com os alunos. Mesmo os assessores de imprensa, pelos quais os
estudantes devem entram em contato para colher as informações necessárias, são
rudes.
De acordo com o professor coordenador, cerca de 80% dos
parlamentares não respondem e-mails, não tem páginas no Facebook ou, se tem, não respondem, da mesma maneira que os sites
são muito desatualizados. “A indiferença dos políticos em relação aos alunos é
muito saliente. A grande maioria não está preparada para ser questionada”.
Um caso que chamou a atenção do professor e dos alunos foi a
rejeição inicial de uma assessora de imprensa em ceder uma entrevista aos estudantes.
Após saber que eram alunos do Colégio Medianeira, ela aceitou. Conforme o
professor, a assessora inicialmente se recusou por imaginar que se tratava de
estudantes de escola pública.
Para o professor Tomio não
há motivo para tal recusa e a atitude não é razoável, pois revela que os
políticos em questão acham que não devem prestar contas a esses jovens. “Não
sei se prestam conta para quem eles acreditam ser seus eleitores, muitas vezes
não. Mas isso implica um certo desdém na obrigação de fazer isso”, interpreta.
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