Na contramão dos
espaços de cinema multiplex, o Sesi é uma das instituições que promovem sessões
gratuitas semanalmente, sob a curadoria de Miguel Haoni
Reportagem: Júlio Boll
Reportagem: Júlio Boll
No dia 22, o Cineclube Sesi exibiu “A Divina Comédia”, do
diretor português Manoel de Oliveira (Foto: Júlio Boll)
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O frio e uma chuva fina assolaram Curitiba por volta das 19
horas do dia 22 de maio, quinta-feira. Nem por isso, cerca de 20 pessoas
deixaram de se acomodarem nas poltronas de uma sala de multimídia no prédio da
Sistema Fiep, no centro da cidade, movidos pela paixão e pelo interesse pela
sétima arte. Ali começaria, em instantes, mais uma sessão do Cineclube Sesi,
que conta com quase dois anos de existência.
“Hoje tem pouca gente, o tempo não ajudou. Mas eu sempre
venho direto do trabalho desde agosto de 2013, quando fizeram um ciclo do
diretor Wes Anderson, um dos meus favoritos”, conta o advogado Giovanni Comodo,
25 anos. Sob a curadoria do cinéfilo Miguel Haoni, um dos criadores da
iniciativa movida pelo grupo artístico Coletivo Atalante, as sessões gratuitas
acontecem todas as quintas e ocorrem em ciclos, que são de diretores, fases ou
classificações críticas.
Os longas a serem assistidos são selecionados pelos próprios
membros do cineclube, em votações que ocorrem sempre no primeiro encontro do
mês. Além disso, a liberdade de expressão é evidente. Todos são convidados a
opinar sobre impressões ao final de cada filme. “O retorno é interessante.
Curitiba é difícil de conquistar, mas no Cineclube criamos um público fiel e
bem diverso, que vem para participar e interagir”, detalha Haoni.
Na semana passada, o filme “A Divina Comédia” foi exibido e
integrava o ciclo de cinema maneirista. Haoni explica que a fase é uma
característica do cinema entre os anos 1970 e 1980. “Esta classificação é uma
crítica, em um filme que mostra a saturação do cinema moderno e clássico, além
de ter a problematização da representação”.
Paixão desde pequeno
e falta de iniciativa
O Cineclube Sesi, um dos existentes na capital paranaense,
surgiu em 2012 e foi uma forma de reunir apaixonados pela sétima arte que se
preocupam mais com o estudo dos longas e com seu conteúdo. “Ainda no Pará,
fazíamos sessões com colegas da área, em 2007. Depois que me mudei para
Curitiba, percebi que não existia algo desse gênero e combinou com o Sesi, que
queria fazer algo parecido”, conta Haoni, que está cursando o 3º ano de Cinema
da Faculdade de Artes do Paraná (FAP).
A paixão pelo cinema do atual curador começou cedo. “Fui
criado com a TV, assistia filmes compulsivamente. Passei a estudar os títulos
aos 14 anos e, com o Cineclube, achei o meu lugar no mundo”, acredita. Este
amor pelos filmes, no entanto, não se atrela aos últimos lançamentos
cinematográficos. “Prefiro estudar os filmes separadamente. Estamos vivendo
tempos difíceis, com uma intensa falta de criatividade, por isso parei de
seguir as grandes bilheterias”, confessa o estudante.
Sobre o cinema nacional e os investimentos na área cultural,
Haoni é pontual e direto. “Os filmes brasileiros carecem de energia, de
experiência de vida. Após a morte de Eduardo Coutinho, as coisas estão
terríveis”. Para isso, ele confia em uma mudança neste cenário no caminho
inverso: em pessoas que movimentam o cenário para atrair os governantes. “Falta
iniciativa, estão surgindo ideias interessantes, mas ainda precisamos de maior
produção crítica, para se desenvolver as artes localmente e com consistência”.
Já o cinéfilo Giovanni Comodo, um dos presentes no
Cineclube, acredita que o problema seja outro: a distribuição. “Paguei caro
para ver [o filme nacional] ‘Hoje Não Quero Voltar Sozinho’. Não há incentivo
para o cinema brasileiro com melhores locais de exibição. Muitos dos filmes
voltam em espaços desconhecidos e com pouca divulgação”, complementa o
advogado. Por isso, ele acredita que os cineclubes podem ajudar a provocar
mudanças na área: “Com os Cineclubes e um trabalho conjunto, este cenário vai
mudar. Os envolvidos estão tomando seu rumo”, aposta.
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