Dificuldade
na compreensão da língua estrangeira está entre as principais reclamações dos alunos. Mas, há aqueles que gostam do contato com culturas e
línguas diferentes
O
estudante de Engenharia Civil, Guilherme Cardoso, reclama que seu professor de
Cálculo II não fala e nem entende muito
bem português. (Foto: Anna Jardanovsky)
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Reportagem: Anna Jardanovsky
É comum
alunos universitários procurarem experiência em faculdades
internacionais para crescer profissional e pessoalmente. O outro lado
da moeda, porém, algumas vezes não é muito bem aceito. Professores
estrangeiros que vêm para o Brasil são motivo de reclamações,
desistências e até reprovações.
A estudante
de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia da Universidade Federal
do Paraná (UFPR), Camila Miranda, 18 anos, comenta que tem
dificuldades de aprender com o professor australiano de Bioquímica,
David Mitchell. “O sotaque, ou a mistura com palavras do espanhol,
distrai muito na hora de entender a matéria. A prova é bem difícil,
a média da turma está em torno de 3,5 pontos”. Ela lamenta o fato
dos colegas já terem reclamado para a coordenação sobre a
situação, mas o australiano é o único professor disponível para
lecionar a matéria.
Para
o estudante de Engenharia Civil, Guilherme Cardoso, 18 anos, não é
diferente. Ele conta que mais da metade da turma reprovou direto em
Cálculo II, lecionada por um professor chinês, e muitos trancaram
a matéria logo no início. “Consegui ser aprovado, mas foi um
sufoco”, resume.
Tobias
Blinilger, nascido e formado na Alemanha, professor de Matemática
Aplicada e Mecânica dos Fluídos, é professor visitante da UFPR há
quatro anos e fala português já fluente. O alemão veio para cá
para adquirir experiência internacional, e se espanta com o baixo
nível de interesse de seus alunos e da estrutura ruim das
universidades brasileiras. “Meus alunos são tímidos, pouco
autônomos. Eles não me procuram para tirar dúvidas, mesmo quase
reprovando. A estrutura daqui é outro problema: tomadas que não
funcionam, equipamento de datashow quebrado, quadro-negro de
qualidade ruim... É triste”, comenta.
Por outro
lado, Maurício Gobbi, vice coordenador do curso de Engenharia
Ambiental, afirma que seus alunos gostam de ter aula com um
professor estrangeiro, pelo fato da possibilidade de intercâmbio
mais acessível. “No meu departamento, sei que os alunos gostam,
dos outros, não posso falar nada. Já ouvi reclamações de alunos
que não entendem o que o professor fala, e até eu mesmo, quando
conversei com um desses professores, que é chileno, não entendi
nada do que ele disse. A língua é um problema sério, têm
professores que não se esforçam mesmo”, relata.
Fora da
universidade, na área da música, cem professores estrangeiros de
15 países vieram ao Brasil no começo desse ano para lecionar na
32ª edição da Oficina de Música de Curitiba, e foram aplaudidos
de pé pelos alunos. A violinista Cláudia Fernandes, de 19 anos,
conta que ter tido aula com uma professora francesa foi uma
experiência gratificante. “É muito legal ter contato com alguém
de uma cultura tão diferente da brasileira. Ela não falava
português muito bem, mas ninguém se importava e isso era até
legal. Um desafio a mais”, brinca a violinista.
Para um
professor de outro país poder lecionar, em um curso universitário,
no Brasil, de forma mais permanente (não apenas como professor
visitante), é necessário um processo de revalidação de diploma
estrangeiro, que deve ser feito no próprio local de origem em um
Consulado Brasileiro. Segundo a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas
(Progepe), órgão da UFPR responsável pelos concursos de admissão
de professores, os candidatos estrangeiros devem apresentar à
universidade um documento que comprove situação regular no Brasil,
visto permanente e uma declaração de proficiência em língua
portuguesa emitida por um órgão institucional.
A
Pró-Reitora de Graduação da UFPR, Maria Amélia Zainko, não quis
se pronunciar sobre a proficiência em língua portuguesa
satisfatória ou não dos professores estrangeiros da UFPR, o maior
motivo de reclamações por parte dos alunos.
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