sexta-feira, 30 de maio de 2014

Alunos divergem sobre ter aulas com professores estrangeiros

Dificuldade na compreensão da língua estrangeira está entre as principais reclamações dos alunos. Mas, há aqueles que gostam do contato com culturas e línguas diferentes

O estudante de Engenharia Civil, Guilherme Cardoso, reclama que seu professor de Cálculo II não fala e nem entende muito bem português. (Foto: Anna Jardanovsky)



Reportagem: Anna Jardanovsky

É comum alunos universitários procurarem experiência em faculdades internacionais para crescer profissional e pessoalmente. O outro lado da moeda, porém, algumas vezes não é muito bem aceito. Professores estrangeiros que vêm para o Brasil são motivo de reclamações, desistências e até reprovações.

A estudante de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Camila Miranda, 18 anos, comenta que tem dificuldades de aprender com o professor australiano de Bioquímica, David Mitchell. “O sotaque, ou a mistura com palavras do espanhol, distrai muito na hora de entender a matéria. A prova é bem difícil, a média da turma está em torno de 3,5 pontos”. Ela lamenta o fato dos colegas já terem reclamado para a coordenação sobre a situação, mas o australiano é o único professor disponível para lecionar a matéria.

Para o estudante de Engenharia Civil, Guilherme Cardoso, 18 anos, não é diferente. Ele conta que mais da metade da turma reprovou direto em Cálculo II, lecionada por um professor chinês, e muitos trancaram a matéria logo no início. “Consegui ser aprovado, mas foi um sufoco”, resume.

Tobias Blinilger, nascido e formado na Alemanha, professor de Matemática Aplicada e Mecânica dos Fluídos, é professor visitante da UFPR há quatro anos e fala português já fluente. O alemão veio para cá para adquirir experiência internacional, e se espanta com o baixo nível de interesse de seus alunos e da estrutura ruim das universidades brasileiras. “Meus alunos são tímidos, pouco autônomos. Eles não me procuram para tirar dúvidas, mesmo quase reprovando. A estrutura daqui é outro problema: tomadas que não funcionam, equipamento de datashow quebrado, quadro-negro de qualidade ruim... É triste”, comenta.
           
Por outro lado, Maurício Gobbi, vice coordenador do curso de Engenharia Ambiental, afirma que seus alunos gostam de ter aula com um professor estrangeiro, pelo fato da possibilidade de intercâmbio mais acessível. “No meu departamento, sei que os alunos gostam, dos outros, não posso falar nada. Já ouvi reclamações de alunos que não entendem o que o professor fala, e até eu mesmo, quando conversei com um desses professores, que é chileno, não entendi nada do que ele disse. A língua é um problema sério, têm professores que não se esforçam mesmo”, relata.
          
Fora da universidade, na área da música, cem professores estrangeiros de 15 países vieram ao Brasil no começo desse ano para lecionar na 32ª edição da Oficina de Música de Curitiba, e foram aplaudidos de pé pelos alunos. A violinista Cláudia Fernandes, de 19 anos, conta que ter tido aula com uma professora francesa foi uma experiência gratificante. “É muito legal ter contato com alguém de uma cultura tão diferente da brasileira. Ela não falava português muito bem, mas ninguém se importava e isso era até legal. Um desafio a mais”, brinca a violinista.

Para um professor de outro país poder lecionar, em um curso universitário, no Brasil, de forma mais permanente (não apenas como professor visitante), é necessário um processo de revalidação de diploma estrangeiro, que deve ser feito no próprio local de origem em um Consulado Brasileiro. Segundo a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progepe), órgão da UFPR responsável pelos concursos de admissão de professores, os candidatos estrangeiros devem apresentar à universidade um documento que comprove situação regular no Brasil, visto permanente e uma declaração de proficiência em língua portuguesa emitida por um órgão institucional. 

A Pró-Reitora de Graduação da UFPR, Maria Amélia Zainko, não quis se pronunciar sobre a proficiência em língua portuguesa satisfatória ou não dos professores estrangeiros da UFPR, o maior motivo de reclamações por parte dos alunos.




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