quarta-feira, 9 de julho de 2014

Marionetes encantam a Rua XV de Novembro

Pelo movimento dos bonecos, artista de rua alegra quem caminha pela rua XV de Novembro

Thais Barbosa

A Rua XV de Novembro recebe, diariamente, a presença dos bonecos de Élder Kloster
(FOTO: Thais Barbosa)

 

 No meio do calçadão da Rua XV de Novembro, centro de Curitiba, uma música desperta a curiosidade de quem passa por ali. É a voz de Tim Maia:“Alô, Rio de Janeiro! Aquele abraço!”. Os olhos, imediatamente, viram-se em direção aos bonecos articulados de Élder Kloster, artista de rua. Com músicas tipicamente brasileiras e bonecos que dançam em um ritmo particular, o rapaz consegue “quebrar o gelo” curitibano.
 Kloster veio de Guarapuava, interior do estado, há seis anos para conseguir melhores condições de trabalho na área de Economia, curso no qual é formado. Após trabalhar por, aproximadamente, quatro anos em um escritório, a arte falou mais alto: “De dois anos pra cá sobrevivo, como artista de rua”. Ele recorda que começou como palhaço na Praça Osório, também no centro da cidade. Lá, passou um tempo com artistas que lhe ensinaram experiências da vida na rua. O artista também se envolveu com o teatro e, para um espetáculo de festa junina, aprendeu a fazer marionetes.
 O primeiro boneco criado foi o de Luiz Gonzaga. Quando o boneco dança, acompanhando as músicas de forró do compositor nordestino, uma senhora, também do Nordeste, fã de Kloster e de Gonzaga, confessa que “memórias de sua terra natal lhe vem à mente”, conta o artista, que acrescenta: “Ela vem aqui sempre, canta as músicas do Gonzaga em voz alta, não quer nem saber”, brinca.
Os bonecos se movimentam de acordo com o ritmo do artista
(FOTO: Thais Barbosa)
Depois veio o Tim Maia e, em construção, está “O Rappa”. O processo de produção dos bonecos exige tempo e paciência. A colagem entre isopor, kraft, espuma, tela e gesso demora três semanas para ficar pronta, mesmo que o trabalho seja feito durante manhãs e tardes. Para secar, as peças dependem do clima — o tempo úmido interfere negativamente no tempo de produção. O processo criativo, porém, é rápido. A inspiração vem naturalmente, sem ensaios.
Mesmo com o talento evidente, o artista não tem apoio da família que não aceita sua escolha – a não ser da esposa, que vê na arte do marido uma maneira de estar mais próxima à cultura “Família só reconhece artista quando ele aparece na Globo, né?", contesta o rapaz.
 A instabilidade financeira veio como consequência da atividade nas ruas. Antes, como trabalhador registrado, Kloster não tinha que se preocupar com a renda mensal. “Eu ganhava bem. Agora, na rua, eu não sei o quanto eu vou ganhar. Num dia pode ser cem reais e em outro apenas cinco reais”.
 Apesar de saber que terá que lutar mais pelo seu sustento, o artista revela que acorda muito mais feliz, e sua motivação vem da vontade de ver o sorriso em outras pessoas. “O povo precisa dar mais risada. O mundo já não é tão bom de se viver, sem arte, então...”, lamenta.
 Contudo, o mesmo público que Élder ama ver sorrir, às vezes o entristece. Em algumas ocasiões, o marionetista percebe que as pessoas desviam do caminho para não passar por ele. “Nesses momentos, eu me sinto um monstro”, lamenta. “As pessoas confundem muito o artista de rua com um pedinte, mas são coisas muito diferentes. Curitiba precisa valorizar mais que trabalha nas ruas, ainda mais com arte”, reflete.
 Mas, Kloster continua seu trabalho ainda que enfrente a falta de consideração e a temperatura baixa das ruas curitibanas: “Você pode se alegrar com poucas coisas, sabe? Ficar feliz durante alguns segundos, esquecer do que você tem que fazer”. Assim, por meio do rebolado dos bonecos, o artista desperta a criança que existe dentro dos passantes da XV. “O adulto perdeu um pouco a inocência, precisamos voltar à criança que a gente é”, finaliza.

A placa é uma forma de pedir mais respeito à arte de rua
(FOTO: Thais Barbosa)



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