Pelo
movimento dos
bonecos,
artista
de rua
alegra
quem caminha pela rua XV de
Novembro
Thais Barbosa
A Rua XV de Novembro recebe, diariamente, a presença dos bonecos de Élder Kloster (FOTO: Thais Barbosa) |
No meio do calçadão da Rua XV de Novembro, centro de Curitiba, uma música desperta a curiosidade de quem passa por ali. É a voz de Tim Maia:“Alô, Rio de Janeiro! Aquele abraço!”. Os olhos, imediatamente, viram-se em direção aos bonecos articulados de Élder Kloster, artista de rua. Com músicas tipicamente brasileiras e bonecos que dançam em um ritmo particular, o rapaz consegue “quebrar o gelo” curitibano.
Kloster
veio de Guarapuava, interior do estado, há seis anos para conseguir
melhores condições de trabalho na área de Economia, curso no qual
é formado. Após trabalhar por, aproximadamente, quatro
anos em um escritório, a arte falou mais alto: “De dois anos pra
cá sobrevivo, como artista de rua”. Ele recorda que começou como
palhaço na Praça Osório, também no centro da cidade. Lá, passou
um tempo com artistas que lhe ensinaram experiências da vida na rua.
O artista também se envolveu com o teatro
e,
para um espetáculo de festa junina, aprendeu a fazer marionetes.
O
primeiro boneco criado foi o de Luiz Gonzaga. Quando o boneco dança,
acompanhando as músicas de forró do compositor nordestino, uma
senhora, também do Nordeste, fã de Kloster e de Gonzaga, confessa
que “memórias de sua terra natal lhe vem à mente”, conta o
artista, que acrescenta: “Ela vem aqui sempre, canta as músicas
do Gonzaga em voz alta, não quer nem saber”, brinca.
Os bonecos se movimentam de acordo com o ritmo do artista (FOTO: Thais Barbosa) |
Depois
veio o Tim Maia e, em construção, está “O Rappa”. O processo
de produção dos bonecos exige tempo e paciência. A colagem entre
isopor, kraft, espuma, tela e gesso demora três semanas para ficar
pronta, mesmo que o trabalho seja feito durante manhãs e tardes.
Para secar, as peças dependem do clima — o tempo úmido interfere
negativamente no tempo de produção. O processo criativo, porém, é
rápido. A inspiração vem naturalmente, sem ensaios.
Mesmo
com o talento evidente, o artista não tem apoio da família que não
aceita sua escolha – a não ser da esposa, que vê na arte do
marido uma maneira de estar mais próxima à cultura “Família só
reconhece artista quando ele aparece na Globo, né?", contesta o
rapaz.
A
instabilidade financeira veio como consequência da atividade nas
ruas. Antes, como trabalhador registrado, Kloster não tinha que se
preocupar com a renda mensal. “Eu ganhava bem. Agora, na rua, eu
não sei o quanto eu vou ganhar. Num dia pode ser cem reais e em
outro apenas cinco reais”.
Apesar
de saber que terá que lutar mais pelo seu sustento, o artista revela
que acorda muito mais feliz, e sua motivação vem da vontade de ver
o sorriso em outras pessoas. “O povo precisa dar mais risada. O
mundo já não é tão bom de se viver, sem arte, então...”,
lamenta.
Contudo,
o mesmo público que Élder ama ver sorrir, às vezes o entristece.
Em algumas ocasiões, o marionetista percebe que as pessoas desviam
do caminho para não passar por ele. “Nesses momentos, eu me sinto
um monstro”, lamenta. “As pessoas confundem muito o artista de
rua com um pedinte, mas são coisas muito diferentes. Curitiba
precisa valorizar mais que trabalha nas ruas, ainda mais com arte”,
reflete.
Mas,
Kloster continua seu trabalho ainda que enfrente a falta de
consideração e a temperatura baixa das ruas curitibanas: “Você
pode se alegrar com poucas coisas, sabe? Ficar feliz durante alguns
segundos, esquecer do que você tem que fazer”. Assim, por meio do
rebolado dos bonecos, o artista desperta a criança que existe dentro
dos passantes da XV. “O adulto perdeu um pouco a inocência,
precisamos voltar à criança que a gente é”, finaliza.
A placa é uma forma de pedir mais respeito à arte de rua (FOTO: Thais Barbosa) |
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